terça-feira, 16 de novembro de 2010

Trovão.

Quando eu era guria, minha vó já dizia que o trovão era a manifestação de Deus reclamando com a humanidade. Então eu e minha prima já ficávamos em alerta quando o tempo fechava e começava a trovoada. 
- Ih, Nara, Ele deve tá reclamando da gente brincando de panelinha!
Logo parávamos e começávamos a conversar. 
Mais um trovão.
- Ih, Nara, Ele deve tá reclamando da gente conversando! 
E piu! Assim os trovões se sucediam. Eu ficava calada de olhos bem abertos, cheia de entusiasmo em obedecer a Deus. O silêncio era a voz a cada temporal ruim de trovões, chuvas e relâmpagos.
Mas aí eu cresci e ganhei o tal do estudo, o tal do conhecimento. Aprendi que os trovões nada mais eram que o encontro das massas de ar fria com as massas de ar quente, eram as nuvens se chocando. Que graça? Pois, meu amigo, era tudo história para boi dormir que minha vó contava.
Por muito tempo eu não entendi porque minha vó mentiu. Mas, apesar de tudo, antes, com essa mentirinha, a vida do trovão tinha mais graça. Hoje ele não passa de um fato científico ou geológico da Terra. E não só a vida do trovão, mas a minha também. Antes eu estava sempre tendo que descobrir o que fazer ou o que não fazer para Deus "parar de reclamar". Hoje só tenho que desligar os aparelhos eletrônicos para não atrair raio.
Se é que essa história de raio é mesmo verdade...

Um comentário:

  1. Cara Ariane,
    belo texto! cheio da sensibilidade de quem ainda tem dúvidas... E, como é importante a gente duvidar!
    abs

    ResponderExcluir

Comenta, comenta, comenta! :B