sábado, 6 de agosto de 2011

Falta de poder.

Preciso escrever assim como preciso da liberdade.
Como não a tenho, só me resta minhas folhas e uma caneta num mundo em que eu possa pensar eternamente sem enlouquecer. Porque pensar demais enlouquece, não poder agir mais ainda. Todavia enquanto eu tiver minhas folhas e uma caneta vou estar confortável, como uma alcoólatra com uma bebida na mão que nesse momento sorri satisfeita ao tomar o primeiro gole e, em seguida, agradece a Deus por ter livre arbítrio, não por poder querer e ter o mundo, mas por desejar tanto aquele pedaço dele que tem nas mãos.
Desejo escrever assim como desejo a liberdade.
Como não a posso ter, só me resta escrever.  Mas escrever sobre o que? Sobre o meu desejo descompreendido? Pois é tudo que agora penso e já que penso, logo escrevo, não posso me atrever a escrever sobre nada além disso. O que já demonstra minha total falta de liberdade sobre mim mesma. Duas palavras que se repetem diariamente no meu vocabulário são essas: não posso. Minha história é cheia de "não possos" desde que nasci. Não podia escolher quando, nem onde nascer. Não podia escolher nascer homem, nasci mulher. Não podia escolher meu nome, nem família, nem cidade, nem onde morar. Nem sabia o que eram essas coisas, mas já sabia não poder.  Então me acostumei mal a não poder e hoje o mal já está feito: ainda não posso. Lógico que acredito no livre arbítrio, só que tomaram conta de tudo. Das ruas, dos muros, das casas,dos prédios, das coisas, até das pessoas. Apoderaram-se do mundo e encheram-no de "não podes". Como posso ter livre arbítrio assim? Eu quero liberdade pura, igual a água pura. Não posso poder do jeito que tanto desejo? Portanto escrevo. É dessa forma que posso usar o cisco, o grão e a lágrima de liberdade que sobrou pra mim. Mas se for pra escrever sempre que me faltar liberdade, prefiro nunca tê-la toda.

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